Juiz lamentou que o Direito Penal tenha virado um “instrumento de manipulação social”
Durante seu voto no julgamento que resultou na extinção de um processo contra a pregadora Karla Cordeiro, da Igreja Sara Nossa Terra de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, o desembargador Paulo Rangel, da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio, afirmou que Kakau, como ela é conhecida, estava amparada na liberdade religiosa ao fazer uma pregação em que criticava fiéis que publicavam bandeiras políticas, como racismo e LGBTQIA+, em suas redes sociais.
– Desculpa falar, mas chega de mentiras. Eu não vou viver mais de mentiras. É uma vergonha. A nossa bandeira é Jeová Nissi, é Jesus Cristo. Ele é a nossa bandeira. Para de querer ficar postando coisa de gente preta, de gay. Para. Posta a Palavra de Deus que transforma vidas. Vira crente, se transforma, se converta – disse a pregadora, na ocasião.
O vídeo com a pregação de Karla começou a circular nas redes e motivou uma denúncia do Ministério Público (MP) fluminense contra a líder religiosa, sob a acusação de que ela teria proferido um discurso racista e homofóbico. Rangel, porém, discordou do MP e disse que a pregadora apenas “pregou a Palavra de Deus com base no Livro Santo e Sagrado de todos os cristãos: a Bíblia”.
– Não comete crime quem, em pleno exercício de sua religião, clama pelos ensinamentos de Cristo, sem ofensa a qualquer minoria. O que se quer é obrigar a paciente a rasgar a Bíblia e a aceitar o homossexualismo – afirmou.
O desembargador ainda ressaltou que “a prática do homossexualismo e demais atos citados na passagem Bíblica e tidos como pecados não são inventados pela pregadora” e que “querer que ela defenda algo diferente do que está na Bíblia é cercear a liberdade de culto dela”.
Paulo ainda lamentou que o Direito Penal tenha virado um “instrumento de manipulação social”.
– O problema é que hoje tudo é crime. A pessoa tem uma opinião que não é politicamente correta, pronto: já é considerada criminosa. Opinião passou a ser crime. Lamentável. Hoje humoristas como Paulo Silvino, que tinha o bordão “Isto é uma bichona”, Tom Cavalcante, que encarnava o “Pit Bicha”, […] seriam presos na porta do estúdio de gravação e denunciados pelo Ministério Público” – completou.