“Gabinete da ousadia”, do PT, usa Planalto para despachar com influenciadores de Lula

Secom, PT e lideranças do partido realizam reuniões diárias para definir pautas nas redes sociais

Membros da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República, do PT nacional e das lideranças do partido no Congresso organizam todos os dias uma “reunião de pauta”, uma variação do conhecido “gabinete do ódio”, para decidir sobre os assuntos a serem abordados nas redes sociais. O secretário de comunicação do PT reconhece a convocação de influenciadores “quando tem necessidade”. O governo nunca se pronunciou sobre o tema.

As sessões virtuais ocorrem aproximadamente às 8h, com a participação de conselheiros da Secom, do PT nacional e dos escritórios dos líderes do partido na Câmara e no Senado. Nessas reuniões, estabelecem-se os tópicos e as abordagens que os canais e perfis do PT devem adotar para direcionar as redes sociais que o partido atinge. Ocasionalmente, influenciadores alinhados ao governo são chamados para receberem orientações sobre os assuntos de interesse do governo.

Durante a eleição de 2022, o time de mídias sociais do PT operava sob a denominação de “gabinete da ousadia”, uma variação petista do “gabinete do ódio” da administração Jair Bolsonaro (PL). A partir do dia 7 de maio, a reportagem tem tentado obter uma resposta oficial da Secom acerca do envolvimento de funcionários, o tipo de informações fornecidas ao PT e a comunicação com influenciadores que apoiam o governo, mas não recebeu nenhuma resposta.

Uma série de páginas e perfis alinhados ao governo tem se sobressaído na proteção ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), conduzindo ofensivas sincronizadas contra detratores e desacreditando a mídia. A conexão direta entre o governo e o partido com esses influenciadores insinua que a atividade digital deles é dirigida a partir do Palácio do Planalto. Não existem evidências de transferência de fundos públicos para esses influenciadores.

No meio da tragédia no Rio Grande do Sul, o PT, o governo e os influenciadores se esforçaram para combater o que denominam como “fake news”, que incluem críticas políticas e matérias jornalísticas, além de promover as ações de Lula em benefício dos gaúchos. Tanto o governador Eduardo Leite (PSDB-RS) quanto a família Bolsonaro foram alvos de contas governistas.

O parlamentar Jilmar Tatto (PT-SP), que também ocupa o cargo de secretário nacional de comunicação do partido, revelou em um evento interno no mês passado que há uma reunião diária. Ele enfatizou que o trabalho de comunicação do partido é fundamentado em “metodologia”, “ciência” e “expertise”. Tatto disse: “Às 8h da manhã, um pequeno grupo do PT, da delegação nacional, se reúne com membros da Câmara, da liderança do PT, do Senado e da Secom do governo Lula. Realizamos o que chamamos de reunião de pauta. É nesse momento que decidimos o que discutiremos no dia.”

A agência de comunicação Polo Digital Marketing, que tem prestado serviços ao PT desde 2021, também está envolvida nas reuniões matinais que discutem os assuntos principais. Na campanha de 2022, Clarisse Chalréo, uma das sócias da Polo, estava à frente do grupo de WhatsApp denominado “gabinete da ousadia”, associado à coordenação nacional do partido.

Em entrevista ao Estadão, Jilmar Tatto confirmou que as reuniões de pauta mobilizam as principais estruturas da comunicação do partido, mas minimizou a participação diária da Secom, dizendo que ocorre “às vezes, dependendo do horário”. O parlamentar também admitiu que influenciadores são eventualmente chamados para as reuniões de pauta e que busca estreitar a relação com eles para que sigam a pauta de interesse do governo e do partido.

Os encontros matutinos têm como objetivo “pautar as redes que o PT alcança”, abrangendo sindicatos, movimentos sociais, prefeitos, vereadores e deputados estaduais. Os temas tratados incluem tragédias, ações do governo, pesquisas de aprovação e reações a reportagens jornalísticas. A atuação nas redes sociais dos influenciadores envolve mutirões contra adversários ou a favor de governistas.

Recentemente, o humorista Whindersson Nunes foi alvo das redes governistas após criticar as aparições da primeira-dama, Janja da Silva, em medidas humanitárias para o Rio Grande do Sul. A imprensa também é um alvo preferencial dos ataques dos influenciadores, especialmente quando reportagens expõem erros ou omissões do governo.

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